Crônicas

De bar em bar

Tirante dois ou três barezinhos nas proximidades da Rua Dom Pedrito, pras bandas do Jardim de Alá, e o Clipper, em frente à garagem do 12, a maioria dos botequins importantes do bairro, bem como os raríssimos restaurantes tidos como tais, ladeavam a pracinha ou situavam-se mais para o final do Leblon, quase sempre ao longo da Av. Ataulfo de Paiva.

Em frente ao Clipper, o neguinho Miquimbira fez-se de morto. Cobriram-no com um lençol surrupiado da casa do Paulo Perinha e cercaram a trouxa com velas acesas. Os passantes olhavam consternados para o suposto defunto. Um ou outro, mais comovido, indagava da causa do óbito e já havia uma rodinha em volta, com as pessoas sussurrando respeitosamente. Foi quando o Pestana, atropelando o script, enfiou por baixo do lençol, juntinho à cabeça do ´falecido` uma cabeça-de-negro das grandes. No que o Miquimbira ouviu aquele ssshhhh bem perto de sua cara, pulou igual tiziu no arame farpado, atirando longe a mortalha e fugindo espavorido em direção à praia, a tempo de escapar do estrondo. Os participantes do improvisado velório, ao se darem conta do logro, já estavam surdos e envoltos em espessa névoa, prometendo viganças terríveis. A uma senhora mais assustada, tiveram que acudir, trazendo cadeira e água com açúcar.

Fora do eixo principal e igualmente merecedores de menção específica, havia o Colúmbia e o bar do Hotel Leblon, na praia e, logo em seguida ao muro do 8o GMAC, o Memória, recentemente demolido para dar passagem à malfadada ´via dos rastaqüeras`.

Foi no Memória, notável pela decoração neocolonial, que o Almir advogado, empolgado com a narração dos pormenores de uma defesa do China, que ele presenciara, pouco antes, na praia, tentou imitá-lo com movimentos de tal modo realistas, que acabou por escorregar no ladrilho molhado, estatelando-se em plena calçada. No confuso trajeto de seu involuntário vôo, atingiu de raspão uma garotinha que passava, levada pela mão do pai, ferindo-a levemente no rosto. Não bastasse o salto estouvado e a inesperada colisão, o improvisado goalkeeper, atordoado, deixou-se ficar prostrado, de costas, no chão, as pernas abertas, com os ovos bem visíveis, escapulindo cada qual por um lado do diminuto calção...

 

 

Voltar à página de crônicas.